Desde sempre
eu soube que vim a esse mundo com uma dose de curiosidade um tanto além do
normal. Tenho curiosidade em saber as coisas desse mundo e de outros, sejam
reais ou ficcionais. Vivo em busca de entender não apenas as razões pelas quais
as coisas são, mas o que e como elas são. Tenho vontade de fazer cursos de
todas as coisas, das mais simples as mais complexas, de ler todos os livros que
já foram ou poderão ser escritos e para além disso, curiosidade sobre o que eu
mesma sou capaz de fazer, quais os limites da minha mente e do meu corpo. Todos
os dias, para mim, o mundo é um lugar novo, repleto de possibilidades.
Não
quero dizer que sou alguém que está sempre bem, pois tenho minhas fraquezas e
meus defeitos e longe de parecer falsa modéstia, sei que não são tão poucos
quanto a minha vaidade gosta de imaginar, mas, no geral, acho mesmo que, apesar
de todos os pesares, de toda crueldade, de todo desamor, violência e outras
barbáries perpetradas pelo ser humano, esse mundo ainda é um lugar incrível, maravilhoso.
Em
algum momento da minha infância eu fui apresentada a duas máquinas que me
permitiriam fazer o que meus olhos não eram capazes, de enxergar o mundo em
miniatura e o céu que envolve nosso planeta: os microscópios e os telescópios. Assim
que eu soube do que eles eram capazes, fiquei enlouquecida! Ainda criança,
creio que durante a passagem do Cometa Halley, fui com meus pais até um local
onde havia sido instalado um telescópio e, para além de mirarmos o cometa,
ainda podíamos contemplar estrelas, constelações e planetas. Se Deus não morava
lá no Céu, eu pensava, não estaria em lugar nenhum. Que pena não podermos voar
além da luz, não sermos tão evoluídos a ponto de planejarmos nossas férias pelo
Céu.
Na
escola conheci de perto o microscópio e saber que o mundo que não enxergamos é
tão fantástico quanto o que nos é permitido ver a olho nu, fez com eu que
desejasse, profundamente, ter um daqueles só para mim. No colegial, fã das
aulas de Biologia, eu andava atrás do meu professor Luiz Alberto, doida para os
momentos nos quais o uso do microscópio fosse necessário. Ali eu imaginei que
estudaria biologia e era feliz imaginando quantos mini mundos eu poderia
conhecer, decifrar. Quis a vida que eu seguisse outros caminhos, mas mantive o
meu desejo de ter um microscópio.
O
tempo passou e, já adulta, acabei ganhando um pequeno microscópio. Mesmo
limitado, eu usei e abusei dele, observando por outra ótica tudo aquilo que
minha curiosidade me incitava a fazer. Dia desses, enquanto eu navegava pela
internet vi um telescópio à venda, com lentes capazes de me permitir observar a
lua, planetas e estrelas. Nada muito especialmente potente, mas foi o
suficiente para trazer de volta aquela criança que um dia, encantada, olhou
para o céu pela primeira vez com olhos maiores. Sem pestanejar, comprei a
máquina e, desde então, venho perscrutando o céu, olhando para o imenso, divino
e misterioso que nos cobre. Confesso que tem sido um alento, sobretudo em
tempos nos quais nosso olhar vem procurando refúgio para sobreviver.
Mirando
o céu eu penso que deve haver vida em outros lugares, que tudo isso aqui é tão fugaz
e que perdemos tempo demais sendo os tolos da Criação. Não vou viver para
viajar a outros planetas, mas posso sonhar que, lá encima, em algum lugar, há
lugares nos quais a ganância não destruiu quase tudo que há de bom, de puro, de
belo. Olhando para o alto, todos os dias, recordo-me de quanto sou pequena, um
mísero ponto no meio do universo e isso, para longe de me deixar triste, só me
faz entender meu lugar, meu espaço e minha missão nesse mundo...
Cinthya Nunes – cinthyanvs@gmail.com